A invenção da terceira idade

O segundo encontro deste ano do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Tecnologia, Cultura e Sociedade (Nepetecs/UFSCar) ocorreu no dia 17 de março para discutir o artigo “A Invenção da Terceira Idade e a Rearticulação de Formas de Consumo e Demandas Políticas”, da pesquisadora e professora de antropologia da Unicamp, Guita Grin Debert, resultado de sua participação no Grupo de Trabalho da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, em 1996. O tema da terceira idade/envelhecimento foi planejado, em reunião realizada no dia três deste mês, para ser o primeiro a ser estudado pelo núcleo este ano. 

Uma forma de envelhecer e não uma idade específica é o sentido da expressão “terceira idade”, ainda sem conotação pejorativa, que surgiu nos anos 1970 e se popularizou com muita rapidez. Assim, a antropóloga Guita Grin Debert começa este estudo sobre a velhice no Brasil nas últimas décadas do século XX. No centro da sua pesquisa está a transformação do envelhecimento em questão pública por meio de um processo de “socialização da gestão da velhice”.  Transformação porque, durante muito tempo, a velhice foi considerada um tempo intimamente ligado à esfera privada e familiar. 

Imagem de pessoas participando de encontro via Google Meet
Participantes do grupo de pesquisa discutem o tema envelhecimento.

Assim, a autora introduz seu argumento central de que a crescente socialização da velhice contribui para o processo de “reprivatização da velhice” que transforma a socialização em responsabilidade individual. Nesse sentido, Guita Debert aponta a tendência do discurso gerontológico para a desconstrução de seu objeto de estudo e de intervenção ao fazer dos gerontólogos agentes de combate à velhice.

Como consequência, observa-se o interesse crescente pelas tecnologias de rejuvenescimento e a formação de novos mercados de consumo. Ao mesmo tempo, a solidariedade entre gerações é posta no centro do debate num contexto de aumento da população da terceira idade pela ampliação da expectativa de vida, o que é visto como ameaça à sustentação do sistema previdenciário em função do aumento do custo das aposentadorias. 

Comentamos brevemente o filme Eu, Daniel Blake (Ken Loach, UK, 2016) como uma representação bastante fidedigna dos desdobramentos dos processos estudados por Guita Debert na medida em que evidencia, sobretudo no que diz respeito ao papel do Estado no desfavorecimento dos direitos e interesses dos mais velhos.

O tema continuará a ser estudado no próximo encontro a partir das diversas discussões propostas por Guita Debert com o recorte temático da velhice no cinema. 

Além do texto de Guita e o filme Eu, Daniel Blake, foram indicadas outras referências pesquisadores, que são: 

“Memória e Sociedade”, de Eclea Bosi; 

Ciclo de Cinema e Psicanálise – Ao vivo! do MIS, que discute o filme ; 

Dilema ético, os idosos e a metáfora de guerra;

– Fernanda Montenegro recitando Simone de Beauvoir Sobre a Velhice;

– Textos sobre Ageing, por Gisela Grangeiro da Silva Castro.

Discursos sobre o idoso, de Pedro Navarro  e “A subjetivação do “novo idoso” em textos da mídia”, do mesmo autor.

A invenção da terceira idade

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