2020 em resumo

Encontros e troca de conhecimentos realizados por meios virtuais realizaram estudos e debates sobre impacto social, político, econômico e cultural expressos principalmente na obra “Sopa de Wuhan”, que apresenta visões de filósofos sobre a pandemia

Encontro virtual do NEPeTeCS realizado no fim do ano

Um ano completamente atípico. Talvez nem mesmo em cenários fantasiados por filmes e livros de ficção teríamos como narrar ou minimamente chegarmos próximos do que foram estes últimos meses. Em especial a partir de março, quando a pandemia do novo coronavírus tomou o mundo de assalto. Como não poderia deixar de ser, a crise global sanitária, com efeitos diretos e indiretos sobre economia, política, ética, estética e, claro, sociedade, também ocupou a maior parte dos diálogos e dos principais debates realizados pelo NEPeTeCS ao longo do período.

Os encontros e trocas de conhecimento – realizados virtualmente – se concentraram especialmente nos textos criados e distribuídos na obra “Sopa de Wuhan: Pensamiento Contemporáneo en Tiempos de Pandemia”. A coleção de artigos analisa e traz considerações sobre a vida nessa etapa da história a partir de diferentes perspectivas com problemáticas sobre o cotidiano e o comportamento humanos.

Trata-se de um compilado de textos de diversos filósofos dos tempos contemporâneos, publicado originalmente em espanhol e com algumas traduções para o português no site da Boitempo Editorial.Os encontros do grupo se debruçaram sobre alguns dos textos da obra que contempla escritos de Giorgio Agamben, Slavoj Žižek, Jean Luc Nancy, Franco “Bifo” Berardi, Santiago López Petit, Judith Butler, Alain Badiou, David Harvey, Byung-Chul Han, Raúl Zibechi, María Galindo, Markus Gabriel, Gustavo Yañez González, Patricia Manrique e Paul B. Preciado.

Os debates passaram por questões de abordagem sobre a pandemia como as limitações impostas à liberdade em virtude das medidas de contenção e todos os esforços dispostos para o distanciamento e, principalmente, o isolamento social que se passaram no mundo todo, tratada pontualmente por Agamben.

Conversas enriquecidas pela visão do filósofo esloveno, Slavoi Žižek, que apresentou a ideia de, no decorrer da transmissão ao redor do globo pelo SARS-COV2, a evidenciação das epidemias de vírus ideológicos. Movimentos enormes de notícias falsas, demonstrações claras de racismo de todos os tipos e crescimento das teorias de conspiração, já bastante latentes, explodiram junto com a epidemia. O que nos obriga, de toda forma, a repensar todo o sistema capitalista estabelecido globalmente e a definir caminhos mais radicais.

Caminho semelhante adotado pela pensadora Judith Butler em “El capitalismo tiene sus limites”. Ao analisar a condição dos Estados Unidos – o país mais atingido pela pandemia – aponta para a falta de um modelo de saúde público, da ausência de fronteiras e de questões políticas expostas claramente na pandemia e todos os processos que dela decorreram.

Como consequência – mesmo que se diga que o novo coronavírus seja democrático pelo fato do contágio atingir a todos os gêneros, raças e classes – as desigualdades econômicas e sociais ficaram ainda mais às mostras o que determina que até mesmo o vírus é discriminatório. O geógrafo David Harvey lembra, inclusive, que não há divisão entre natureza, cultura, economia e vida. Por isso, o vírus também é resultado também das alterações ambientais provocadas pelo capital.

O ensaísta Byung-Chul Han levanta que, em um comparativo com o ocidente, o controle e combate asiáticos da pandemia foi mais bem produzido, em especial, por uma vida comum mais organizada, mas também em razão do alta vigilância digital a que estão submetidas essas populações.

Por fim, Paul B. Preciado analisa os fatos do ponto do corpo, da biopolítica e da regulação de vida e morte sob a ótica de poder, propondo novas formas de pensar a nossa reação com as máquinas de biovigilância e biocontrole que, no final do dia, não são e nem podem ser encarados apenas como dispositivos de comunicação.

Que venha um 2021 repleto de novos saberes!

2020 em resumo
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