O velho está morrendo e o novo não pode nascer

Filósofa orientada pela escola de pensamento conhecida como Teoria Crítica analisa o desenvolvimento que ela descreve como neoliberalismo-progressista.

É impressionante a leitura que Nancy Fraser faz dos movimentos que criaram as características do mundo que vivemos atualmente em termos políticos, econômicos e sociais. Aponta como a direita fundamentalista – ou neoliberalismo reacionário – incorporou e se apropriou do discurso da nova esquerda que surgia em meados da década de 60 e início dos anos 70 e o reembalou criando o que ela classifica de “neoliberalismo-progressista”.

Capa do livro O velho está morrendo e o novo não pode nascer de nancy fraser

Baseado em um reconhecimento superficial de igualdade, de diversidade e, também, com falsa ideia (apenas simbólica da classe média trabalhadora) de emancipação. O “estranho casal” surge então reunindo Wall Street, Vale do Silício e Hollywood a correntes neoliberais de novos movimentos sociais (feminismo, antirracismo, multiculturalismo, ambientalismo, e ativistas pelos direitos LGBTQIA+). O que deu origem ao “novo espírito capitalista”.

No fim do dia, a pauta e a agenda de um lado de outro, com leves nuances, permaneceu a mesma. Veio a desindustrialização, falência sindical, o crescimento do subemprego e precarizacão do trabalho, aumento do endividamento. Os dois lados deixaram uma enorme lacuna. Afinal, uma parcela significativa da população não se via representada em nenhum dos dois lados.

E esse buraco foi ocupado por Trump. Importante ressaltar que a obra foi produzida antes da última eleição nos EUA. Na prática, o recém-eleito presidente dos EUA é o representante bastante claro desse neoliberalismo progressista. Voltaremos à pauta neoliberal de sempre, apenas de forma mais elegante e não como uma máquina de disparo de bobagens ou de criação de memes. Um resgate ao que se tinha antes da era Trump – o que não significa ser bom. É apenas uma restauração de um modelo pouco distributivo e de um reconhecimento de fachada. E a cratera de representatividade pode se abrir novamente, dando espaço para novos Trumps.

“Reinstalar qualquer um desses blocos (o neoliberalismo progressista ou o reacionário) no poder significa assegurar não apenas sua continuidade, mas uma intensificação da crise atual”. Sem qualquer hegemonia segura, sem a existência de um bloco contra-hegemônico. O recado da autora é: a briga tem de ser com o capitalismo financeirizado – a batalha está na classe como ponto estrutural, caso contrário, passa a ser superficial. Inclusive para as lutas que tangem ao feminismo, racismo, sexismo, entre outros.

Autora: Nancy Fraser

Editora : Autonomia Literária; 1ª edição (24 março 2020)

Número de páginas : 60 página

Sobre a autora
Nancy Fraser nasceu em Baltimore, em 1947, e estudou Filosofia na City University of New York. É titular da cátedra Henry A. and Louise Loeb de Ciências Políticas e Sociais da New School University, também em Nova York. É coautora do manifesto Feminismo para os 99% (Boitempo 2019), e autora, entre outras obras, de Fortunes of Feminism: From State-Managed Capitalism to Neoliberal Crisis (Verso, 2013) e Capitalism: A Conversation in Critical Theory (Polity, 2018).

O velho está morrendo e o novo não pode nascer

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